27 de nov. de 2011

Portas

Amadeu se sentiu perdido. Todas as casas da rua eram parecidas, tinham sido construídas da mesma maneira há muito tempo. Em algumas se notavam reformas, a pintira fora retocada em outras, mas basicamente eram iguais. E Amadeu não fazia idéia de qual casa procurava.
Amadeu não lembrava em qual casa tinha entrado ontem. Tinha bebido. Ou tinha sonhado, também pode ter sido isso. Mas era uma daquelas casas, ele sentia isso. Sabia que ali atrás de alguma daquelas portas estava a mulher que tinha conhecido ontem, ou sonhado, que seja. Era a mulher de sua vida e isso que era importante. A casa era só um detalhe e achar ela seria questão de tempo. Era ali. Amadeu não conseguia lembrar também como ela era, mas saberia quando a visse.
Amadeu entrou numa porta ao acaso, a sorte o levaria até sua amada. A sala era familiar, a mulher sentada ao sofá também. Mas seria ela? Amadeu sentiu alguma. Podia ser o destino mandando ele ir em frente ou a consciência falando pra ele correr pra porta. Correu pra porta. Não era ali que deveria ficar. O episódio se repetiu em várias casas. A sensação estranha e depois a certeza de que não era lá.
Na varanda de algumas casas Amadeu sentiu a certeza de que era naquela, mas depois se deparava com uma casa vazia. Mais estranho era olhar pela janela em certas casas e ver homens aonde ele deveria estar. Amadeu ficava chateado em toda casa em que a mulher não parecia notar que o homem que ali estava não era ele. Determinadas casas tinham até mulheres em seu lugar.
A rua agora parecia interminável com suas 2 fileiras de casas idênticas até o horizonte. Milhares de janelas mostrando pessoas felizes como quadros, e Amadeu ali sem encontrar o seu cantinho. Até que uma porta se abriu.
"Amadeu?" - perguntou a mulher à porta.
"Sim"
"Você veio me ver? - perguntou a moça enquanto abria um sorriso.
Foi então que Amadeu se lembrou de tudo. Já estivera ali mesmo, mas não na noite passada, estivera ali várias vezes com aquela mulher. Passou anos com ela. Outra vez passou meses. Uma vez entrou num dia e saiu no outro. Sempre ia e voltava. E sempre lhe parecia uma boa idéia ficar naquela casa com a mulher. Mas depois saía enxotado ou enfurecido da casa. Nunca dava certo. E depois de um tempo tudo aquilo lhe parecia como um sonho estranho pro qual ele achava que queria voltar.
"Você vai entrar?" - a mulher agora exibia uma cara de confusa.
Amadeu não pensou 2 vezes. Desceu a rua correndo e começou a abrir outras portas. Entrou na primeira casa vazia que achou. E ficou ali feliz da vida, pensando em como aquela casa era tudo o que ele precisava.

15 de out. de 2011

a lamina

Ele segurava a lâmina perto da pele enquanto pensava uma última vez. Aquilo era sério, não ia ter volta. Sabia que os iam lembrar dele por causa daquilo. Nunca iam esquecer.
Aproximou a lâmina um pouco mais e viu seu próprio reflexo no espelho. Era aquilo mesmo que ele queria? Sabia a resposta. Não, não era aquilo que ele queria. Mas estava fazendo por amor, por ela. Ninguém além dela ia entender aquele sacrifício. Pensou nos amigos e no que eles iam dizer dele. Será que iam respeitar sua escolha? O corpo era dele, a alma era dela, e ele estava disposto a sacrificar um pelo outro.
A lâmina chegava a tocar na pele agora. Ele tinha pensado em outras maneiras de fazer aquilo, mas a lâmina pareceu o jeito mais rápido e prático. Antigamente ele se sentiria um fraco só de pensar em fazer aquilo, mas agora estava cheio de certeza. Tinha que fazer.
E fez.
Raspou o peito a pedido da namorada. Os amigos passaram a deixar artigos com dicas de como fazer virinha cavada no parabrisa. Na hora de tomar banho depois do futebol sempre alguém levava cera quente pra sacanear. Ele sabia que virar metrossexual era um caminho sem volta e estava firme em sua decisão. Mas mesmo assim entrou na natação pra diminuir o falatório.

7 de out. de 2011

Separados por um bule.

Rodolfo acorda de manhã já com aquela costumeira falta de vontade, ele sabe a merda de dia que o espera lá fora. Fez o que todo mundo faz ao acordar, levanta, lava o rosto, dá uma olhada na janela da sala pra checar se o apocalipse zumbi não estourou enquanto ele dormia.
Foi para a cozinha fazer o café. Na verdade, só esquentar o de ontem. Esquentou o café, separou e lavou porcamente o copo. "Preciso catar mais copos no bar do seu Dinga. Quebrou mais um e só sobraram 2". E se deu conta de que não tinha açúcar. Nadica de nada. E foi até a vizinha pedir açúcar.
Saiu pela porta e encontrou ela toda cheia de sorrisos no corredor. "Oi, vizinho, você tem um pouquinho de açúcar pra socorrer sua pobre vizinha?" "Eu tava indo justamente te pedir isso, Tereza. O meu acabou" "É que meu namorado passou aqui bem cedinho e colocou quase um quilo no café, parece que veio aqui só pra isso. Eu tava contando com o seu emprestado" Namorado. NAMORADO. Aquilo ecoou na cabeça de Rodolfo. A gracinha de vizinha que vinha dando bola pra ele há meses. Ele sabia que devia ter chamado ela pra sair. Agora era tarde. O cérebro de Rodolfo ainda conseguiu fazer a boca resmungar alguma coisa antes de voltar pro apartamento processando aquela nova informação. Tudo deu errado. Não era pra ser assim. A entrevista de emprego tinha sido boa, mas ele não conseguiu a vaga. Por causa disso atrasou 2 meses o aluguel, mais um mês e teria que se mudar. A bendita vizinha. O maldito namorado. O maldito açúcar.
"O açúcar. Nem tudo está perdido" Rodolfo saiu de novo, agora determinado a ajeitar alguma coisa em sua vida. Não podia fracassar em tudo. E foi com uma lança caçar o açúcar.
O seu Dinga não tinha. "Ih, rapaz. To atrasado com as compras do mês. Vou ficar te devendo essa"
Na padaria: "Não tem açúcar pra vender, o que tem aqui nós usamos e não dá pra ficar dando assim"
O supermercado mais perto ficava a 30 min de caminhada, mas Rodolfo não ia se dar por vencido. Foi até lá. Aquilo parecia o paraíso de tanto açúcar. Era como se mil Terezas estivessem ali sorrindo e dando aquele tchauzinho inocente dos encontros de elevador. Comprou um saco só, mas pagou feliz. Nem ligou pra longa caminhada de volta com aquele quilo embaixo do braço. Era o resultado da perseverança, o prêmio pela caçada.
Da esquina, viu o prédio. Só mais alguns metros e e estaria em casa. Em casa, com seu açúcar e seu café. Viu também Tereza do outro lado da rua. Linda como sempre. Pensou em alguma coisa interessante pra dizer, alguma música com açúcar na letra pra cantar. Enquanto pensava e atravessava viu um carro estacionar do lado de Tereza. Ela entrou no carro e deu o maior beijo do mundo no motorista. Pela segunda vez naquele dia a realidade ecoava na cabeça de Rodolfo. Só ficou parado ali, desarmado, enquanto o carro ia embora. Não viu o outro carro. Pegou em cheio e foi açúcar pra todo lado. Agonizava ali, agora com a certeza absoluta de que não devia ter levantado da cama de manhã.

*****

Mário acorda de manhã cheio de energia, ele sabe o dia maravilhoso que o espera lá fora. Levanta, lava o rosto, dá uma olhada no sol nascendo.
Foi para a cozinha fazer o café. Repara logo que não tem açúcar. Sem titubear, pega o carro e vai pra casa da namorada acabar com o açúcar dela. Tem um excelente dia e não morre no final.

3 de out. de 2011

de onde vem, pra onde vão?

Acho que eu nunca presenciei o nascer de uma relação. Sempre que eu me dei conta ela já estava lá, não teve fecundação, não teve geração espontânea, brotamento, nada. Quando você não sabe de onde uma coisa surgiu fica difícil lidar com ela, saber o que ela come, pra onde ela vai, de qual tamanho pode ficar. E é assim que as minhas acabam, fugindo por incompatibilidade de idéias, mortas de fome, ou grandes demais pra se ter no prédio e o síndico manda eu me livrar dela. O que pega de surpresa é o momento que isso acontece. Porque você não sabe de onde ela veio, então não sabe o que funciona e não funciona pra ela. Ela começa a bolar planos de fuga quando você espera que ela se vire sozinha, vá caçar, buscar o próprio sustento. E relações não funcionam se você não der de comer exatamente o tipo de ração indicada, levar pra passear bem na hora que ela entender(é um perigo alimentar e não levar pra passear). Já teve uma que fugiu e nem deixou um bilhetinho azul. A suspeita é de que a comida não estava agradando. E não me engano mais, cedo ou tarde acabo pisando no cocô. Geralmente é cedo.

30 de set. de 2011

tic tac

Quando eu era pequeno o tempo era bem rápido. Pra uma criança demorava só um curativo no último tombo ou almoçar e já podia voltar a fazer coisas que uma criança faz(eu gostava de ver anúncios na lista telefônica com a minha vó e desmontar relógios com um martelo). Já na adolescência o tempo era mais maduro e não corria tanto. A unidade começava em semanas e não curativos. Em uma semana mudava tudo, ou tudo que tinha mudado voltava ao normal. Um mês passado era como se fossem 2 vidas passadas e reencarnadas, já tava tudo diferente, moderno e novo.
Agora, nos meus 20 e poucos as coisas não mudam, esse ano é exatamente igual ao ano passado, as pessoas são as mesmas, manias, defeitos, qualidades, nada mudou.
Aí você toma um tombo e para pra fazer o curativo. E quando levanta vê que tá todo mundo correndo, apressado, fazendo coisas. O tempo não tinha parado, tava mais rápido do que nunca. Foi você quem parou. Aquele tombo só foi alguém que passou correndo e te deu um encontrão enquanto você tava abobado admirando a paisagem. Acho que é tudo vingança dos relógios que eu operei quando criança.

26 de set. de 2011

Gente confusa.

Sabe gente com semblante permanente de que tá perdida? Daquele tipo que entra numa sala e acha que entrou no lugar errado apesar da placa enorme indicando que ela está no lugar certo. Que acha que as pessoas vão perceber que não pertence àquele lugar, cai fora" e acabar enxotado dali por uma multidão com foices e tochas. Porque todos ali se conhecem, ela tem certeza. O de boné vermelho é padrinho do filho da de vestido amarelo, e a de saia rosa parece que foi no enterro da tia-avó da de saruel roxo(como ela teve coragem de sair de casa com isso?). O tipo que parece nunca se encaixar devido ao excesso de peculiaridade e acaba ser tornando em melancolia.
Pois eu tenho atração por essa gente confusa. Não sei qual é essa síndrome de querer consertar pessoas, só sei que eu tenho e é crônica, doutor.

8 de set. de 2011

Eu só queria um banho.

A atração dos homens por chuveiros existe há muito tempo, muito mesmo. Os chuveiros são tão antigos quanto os próprios homens. Não se sabe quem veio primeiro.
A característica mais marcante dos chuveiros é que eles são imprevisíveis. Não dá pra saber o que se passa na cabeça de um chuveiro. Se um chuveiro está em Inverno significa que é pra usar durante o Inverno ou significa que a temperatura dele está mais fria que o marcador Verão? E os chuveiros são muito bons em te fazer pensar que aquela é a temperatura certa ou te deixar imaginando em qual temperatura ele realmente está. Chuveiros conseguem ser bem dissimulados quando querem. Nem sempre por maldade, mas porque faz parte da natureza de um chuveiro não querer que você saiba o que ele está pensando.
Não entenda errado, eu acho que chuveiros são ótimos. Te esquentam quando você tá frio, carente e precisando de um cafuné. Ou te esfriam quando você tá fervendo, suado e precisando de outro cafuné. Adoro chuveiros. Mas são como eu disse anteriormente, são imprevisíveis e impossíveis de se domesticar.
Não adianta pergunta pra um chuveiro qual a temperatura, qual a pressão da água, se tem água de verdade, qual é a chance de um dia aquela água realmente esquentar. Os chuveiros gostam de que você olhe pra eles com a mesma cara do menino feliz que viu um chocolate em cima da mesa mas apreensivo porque não sabe se o chocolate é pra ele. Aham, chuveiros adoram essa cara de paspalho.
Aí, você passa a olhar as outras pessoas e seus chuveiros. Pessoas frias com chuveiros quentes, pessoas grandes com chuveiros pequenos, pessoas sujas e seus chuveiros sem água. Muitos parecem se entender bem. Só você que não recebeu o manual do seu chuveiro. Algumas pessoas até compreendem o seu chuveiro, não parecem ter sido enganadas pelo Verão seguido de um banho de pedras de gelo.
A partir de um momento, você começa a se ver sujo observando chuveiros desocupados e aparentemente funcionando. Hey, talvez um desses possa resolver meus problemas de higiene, você pensa. Mas na hora lembra daquele seu chuveiro estranho e genioso que você gosta tanto. Então você volta pra casa e inspirado pelos outros chuveiros roda a torneira decidido a encarar a temperatura que vier. Nem cai água.
É quando você decide ir atrás de uma banheira.

3 de ago. de 2011

El paraguas

-O que você tá fazendo aqui?
-Não sei, posso entrar ou corro até você pegar a vassoura?
-Não preciso de vassoura, tem um guarda-chuva pontudo atrás da porta. Você não ia chegar nem no elevador. Aliás, quem deixou você entrar no prédio?
-Eu disse pro vigia que você me ligou dizendo que tinha umas coisas minhas aqui e que ia jogar fora se eu não viesse. Não foi culpa dele.
-Afinal, o que você quer?
-Já disse que não sei o que eu quero. Te ver, eu acho. Eu ainda gosto d...
-Pode parar, não vem com esse papo. Você perdeu o direito quando saiu por essa porta e não voltou.
-Eu sei, mas eu não posso ter me arrependido? A gente faz burrada, pede desculpa e torce pra tudo voltar a ser como era.
-Não dá mais pra ser como era, eu mudei. E devia ter mudado de endereço pra não ter que aturar homem arrependido.
-Não é bem arrependimento, eu só percebi que precisava de você. As outras não chegam nem aos seus pés.
-Outras, é? Nesse pouco tempo já teve mais de uma?
-Bom... Calma... É... Pera lá... Com elas foi só sexo, é de você que eu gosto.
-Você não vale nada. Eu só saí com o Otávio e a gente nem transou.
-Otávio que joga pelada comigo? Quem é que não vale nada, sua...
-Olha a boca, já to com a mão no guarda-chuva.
-Desculpa, mas é que eu te amo tanto que não consigo imaginar vocês dois e não sentir raiva.
-Ele fez esse mesmo discurso de coitado quando eu liguei e disse que não queria mais sair.
-Você terminou com ele? Aposto que foi por minha causa.
-Rá.
-Diz, reconhece que não consegue viver sem mim.
-Você continua se achando, né? Lembro que você foi embora porque não estavamos "mentalmente conectados" e você não ia conseguir ficar comigo sendo de um nível superior.
-Eu não ligo mais pra isso, fico com você mesmo sem você ser capaz de me entender. Prometo que vou ter paciência.
-Peguei o guarda-chuva. CORRE!

18 de jun. de 2011

Trouxe um cavalo para mim? -Parte Final

Aqui continua a saga de Frank:


Ele só foi acordar no hospital 1 dia depois. Parecia uma múmia da cintura pra baixo e a perna direita estava suspensa no ar, imobilizada por cordas em roldanas. Ficou sabendo pela enfermeira que sofreu uma concussão e tinha quebrado a perna em 3 lugares. Já tinha passado por várias cirurgias, mas ainda faltavam cirurgias menores e era quase certa uma perda de mobildiade parcial da perna. Isso significava que Frank não poderia mais montar. Sua carreira como ídolo de Western estava acabada antes de começar.
Frank recusou a receber visita de qualquer um que fosse do estúdio ou da produção do filme. E assim que recebeu alta, arrumou as coisas e voltou para o Brasil. Estava tomado pela raiva e pela vergonha, não poderia mais fazer cinema depois do que aconteceu. Hârmonica triunfava novamente.
O tempo passou e Francisco desistiu do nome artístico e da carreira de ator. Mas não conseguiu ficar totalmente longe do cinema. Virou projecionista no pequeno cinema da sua cidade. Podia ver filmes a hora que quisesse e pra esse ou aquele filme fazia uma decoração especial com o tema do filme. Já estava conformado, e até feliz com sua nova vida.
Um dia, Francisco estava abrindo as latas com os últimos filmes que o cinema recebeu e se interessou pelo título de um deles: Vingando Franklin Honda. Colocou o filme pra rodar no projetor. Francisco ficou boquiaberto com o que viu.
Na primeira cena dava podia se ver as costas de um cowboy tentando parar sua montaria que corria desembestada. Ouve-se um grito, seguido de um tiro. Então o cowboy cai. A camera foca nele desacordado e sujo de sangue no chão. É Francisco, ou melhor, Frank Fonda. Quando outros 2 cowboys aparecem, Bronson e o ator que fazia o Federal Marshal, o atirador já não está por perto. Bronson jura que vai achá-lo para vingar o irmão.
A tela fica preta e entra VINGANDO FRANKLIN HONDA. Não é possível. Minha vergonha eternizada pra sempre em filme. CHARLES BRONSON como Colton Cameron. Como eles puderam fazer isso? Deve ser uma piada de muito mal gosto. TIMOTHY SILVESTER como Marshall Hering. Francisco ainda não conseguia acreditar naquilo e... Participação Especial: Frank Fonda.
Era a realização do sonho de Francisco. Apareceu num filme mesmo sem querer. Já não importava tanto sua lesão, estava feliz. Aquele canto inquietante em sua alma estava finalmente sossegado. E ainda aproveitou pra surrupiar os posters do filme de lembrança.

16 de jun. de 2011

Trouxe um cavalo pra mim?

Era a estréia do cinema na cidadezinha e o pai queria que Francisco conhecesse aquilo que ele não teve oportunidade de conhecer quando criança. Iam passar Era Uma Vez No Oeste, um faroeste que tinha acacado de estrear nos cinemas americanos.
Depois do filme, Francisco saiu montando uma vassoura e anunciando que seu nome agora seria Frank e que era um cowboy fora da lei. A brincadeira durou um bom tempo, mas logo Frank mudou. Foi o computador HAL de 2001: Uma Odisséia no Espaço, quando andava pra cima e pra baixo com uma máquina de escrever quebrada amarrada no pescoço e só se comunicava através de bips. Depois de HAL, virou o Dr. Zaius de Planeta dos Macacos, que colou em si uma pelagem rosa e amarela raspada dos ursinhos da irmã menor. Foi bem nessa época que uma prima de Francisco o acusou de levar pulgas pra casa pra ficar catando do cabelo e comendo.
Francisco adorava tudo sobre cinema, lia revistas, não desgrudava do rádio quando entrevistavam algum ator e não pensou 2 vezes quando teve a oportunidade. Aprendera inglês de tanto ver filmes, tinha algum dinheiro guardado, a família o apoiava. E saiu da cidadezinha aos 16 anos com destino a Hollywood.
Com seus dotes pra fazer fantasias, Francisco logo arrumou um emprego de auxiliar de cenário e maquiagem em pequeno estúdio. Mas o que ele buscava era a frente das câmeras. E ia fazer o que fosse preciso pra impressionar alguém.
Francisco ficou amigo de um motorista de outro estúdio, que parecia saber todas as fofocas de todos os artistas. Esse motorista, Conner, lhe contou que outro dia mesmo durante as filmagens de um bang bang, o contra-regra responsável pelos tiros da cena impressionou um figurão rodando as pistolas e colocando no bolso. Agora esse contra-regra ia ser o ajudante do Sheriff que roda a pistola e fala uma frase de efeito quando avisam que os bandidos estão chegando.
-É isso, pensou ele, vou fazer alguma coisa chamativa e conquistar meu lugar no filme.
Aí que soube que Charles Bronson viria visitar o estúdio pra falar sobre um projeto. Aquele mesmo Harmônica, seu inimigo de infância desde o momento em que matou Frank no cinema. Francisco, agora Frank Fonda em homenagem a seu maior herói, sabia o que tinha que fazer, e passou as semanas seguintes obcecado por um plano de vingar a morte de Henry Fonda no filme.
Tudo acertado entre o estúdio e o ator, Harmônica viria filmar. Era a oportunidade perfeita pra colocar em prática seu plano de vingar o Frank original e chamar atenção do diretor.
Na primeira semana de filmagens, estavam fazendo apenas as cenas externas. Nessa cena Harmônica (Sheriff Colton Cameron nesse filme) e o Federal Marshal voltavam do deserto e deixavam os cavalos no estábulo enquanto eram seguidos por uma dúzia de cameras posicionadas em diversos angulos. Frank também estaria posicionado. Quando chegou a hora de filmar, Frank se ofereceu pra ir buscar o cavalo de Harmônica. Frank sabia o que fazer. Fingiria que o cavalo disparou pra cima de Harmônica, quando estivesse já em cima de Bronson, Frank ia domar o cavalo e mostrar pro diretor que aquele atorzinho se assustava com qualquer coisa, e ele, além de ter nervos de aço, era um excelente cowboy.
As câmeras estavam ligadas para um teste de video quando Frank voltou dos estábulos montado no cavalo. O dublê, que ia cavalgar no lugar do foragido, resolveu tirar uma com a cara de Frank quando o viu. Esperou ele passar, gritou seu nome e deu um tiro de festim em sua direção. O estampido assustou o cavalo, que empinou e arremessou Frank longe.
(continua em um de nossos próximos capítulos)

8 de jun. de 2011

Oinc!

Se esbarraram pela faculdade. Ele, Léo, vindo da aula de Antropologia e Etnografia - Cara, que aula do cacete - devaneava ele. Ela, Ana, indo pra Cena e Dramaturgia II - Além de não terminar a maquete pra hoje estou super atrasada - resmungava ela.
BLAM!
A maquete que ainda tinha salvação agora era só destroços. Os óculos dele foram parar longe.
-Você está bem? Eu tava vindo da aula meio sem atenção. Me desculpa, por favor.
-Não liga, gato. Fui eu que tava distraída dando um jeito nessa maque... Ah, não. A minha maquete!
E ficaram ali uns bons minutos discutindo coisas triviais de faculdade e se apaixonando. Só ele, porque ela não era dessas que acredita em amor.
Aí, ele aproveitou que o papo tava bom, reuniu toda a coragem do mundo e falou.
-Já que aparentemente seu projeto babou, você quer ir ali comer alguma coisa? Eu pago.
E foram. Primeiro pra lanchonete, depois pra casa dela. Ela quem deu a idéia de irem. Apesar de quase não acreditar em coisas do coração.
Tinham acabado de se conhecer no sentido bíblico quando ela notou. Uma cicatriz vertical e enorme no peito dele. Olhou a cicatriz com um misto de carinho e dó. Ana agora tinha uma ligeira certeza de que coisas do coração não existem. Ficou sem jeito de perguntar. Mas ele notou.
-É a cicatriz, né? Não tem problema, eu já estou me acostumando com ela. Já tem um tempinho.
-Foi acidente?
-Não, eu sempre tive um coração fraco. O médico disse que era genético. Aí eles me deram um coração novo.
-Deve ser estranho ter o coração de outra pessoa.
-Não é de outra pessoa. Eles implementaram uma técnica experimental, me deram um coração de porco. Dos 12 pacientes, eu sou o único que passou de 1 ano.
-...
-Eu sei que não deve ser fácil de processar, mas esse coração me deu uma vida nova. E a incerteza desse coração me faz viver com mais vontade. Por isso que eu não me arrependo de dizer isso. Eu te amo! Não me preocupa se você não me amar de volta. Porque eu te amo e isso basta. Um amor de horas não vale menos que nenhum outro amor.
Se beijaram. E Ana aceitou de vez que coisas do coração existem e valem a pena. Mesmo vindas de um coração de porco.

4 de jun. de 2011

Agitadíssimo

-Alô. Ah, marcar as aulas da auto-escola? Claro. Eu só não queria ter que fazer no domingo, domingo é pra descansar. Peraí. Sábado também não, sempre pinta alguma coisa pra fazer no sábado, né? Então, qualquer dia útil eu posso. Menos sexta, sexta é pra ficar em casa de "bob" esperando o fim de semana. Você sabe como é... Ah, e segunda não, eu não gosto de fazer nada na segunda porque o dia inteiro fica com aquele clima de segunda feira. Deve ser por isso que chamam de segunda. Então, ainda tem dia pra caramba, ó. Terça, quarta, quinta. Apesar de que eu me canso com facilidade e preciso fazer um descanso no meio da semana. A quarta é ótima pra esse descanso. Terça ou Quinta. Apesar de que eu não faço nada na quarta e nem na sexta então eu gosto de enforcar a quinta. Se eu não enforco a quinta passo o dia pensando que deveria ter ficado em casa. Ok, então fica combinado, às terças. Mas só posso terça à tarde. Porque terça de manhã eu ainda to cansado do fim de semana prolongado que eu faço. Tá pensando que é fácil manter essa vida agitada que eu levo? Então terça à tarde. Até logo.

2 de jun. de 2011

A quentinha.

Ela era morna. Morna como o sol de uma manhã de primavera entrando pela janela. Morna como um gole de chá. Morna como... bom, era bem morna. Mas ela não era feliz sendo morna.
Então ela conheceu nosso frio herói, o sujeito que não parava de tremer há poucos posts atrás. Além de achar ele um pão, ela pensou que ele era peculiar. Que a massa de ar frio que ele gerava era tudo que ela procurava pra se refrescar. E que era possível derreter algumas camadas daquele gelo.
Por um bom tempo houve uma troca bacana de temperaturas. Sempre frio ou quente, era quase impossível que ambos ficassem plenamente satisfeitos ao mesmo tempo. Culpa das nuvens carregadas formadas pelo atrito entre o quente e o frio. Muita neblina, ninguém conseguia enxergar o que tinha do outro lado do nevoeiro e ficavam reféns de boletins meteorológicos e de palpite dos vizinhos. E os vizinhos sempre achavam que vinha chuva.
Esse chove e não molha durou mais tempo que devia, até que a mocinha decidiu que seu fogo ainda era jovem demais pra desperdiçar com o gélido rapaz. E foi embora determinada a encontrar um coração apto a ser propriamente aquecido.
O último boletim do tempo nos traz informações de que a mocinha reclama frequentemente de calor e pede a deus por um vento fresco. O rapaz ainda não saiu de sua era glacial particular mas jura de pés juntos que está bem assim. Se estão mesmo felizes ninguém sabe.

29 de mai. de 2011

Reação.

Ele entrou no banco só pra pagar umas contas. Algumas contas que ainde eram daquele tempo em que ela morava lá. Ele já não tinha mais certeza que esse tempo existiu, pode ter sido imaginação, até um pesadelo daqueles que começavam com o time favorito ganhando campeonato e terminavam com ela indo embora. Todos os pesadelos terminavam com ela indo embora.
Já era quase sua vez na fila quando ouviu.
"NINGUÉM SE MEXE. NINGUÉM FAZ NADA. NINGUÉM SAI FERIDO"
"Isso não é verdade"
"O QUE QUE VOCÊ DISSE? TEM ALGUÉM QUERENDO BANCAR O HERÓI AQUI?"
"É que isso não é verdade. Ela vai embora justamente quando você não faz nada. Quando você não lutou, quando deixou levarem embora. Saí ileso todas as vezes que eu fugi. Foi quando eu fiquei parado vendo tudo acontecer que saí ferido. Mas eu disse pra mim mesmo que nunca mais ia ficar parado e deixar tomarem ela de mim de novo"
E com um salto quase felino foi parar a metros de distância, demonstrando uma agilidade surpreendente pra quem tinha passado as últimas semanas em estado de comatose desde que ela se foi. Era a primeira vez que reagia. Não estava mais disposto a ficar parado e ver seu amor ir embora. Foi embora e ele não fez nada pra impedir. Mas dessa vez não. Já de pé, recuperado do salto, encarou o assaltante e deu a entender que não desistiria. Agora não ia só ficar parado e assistindo as coisas acontecerem.
E tomou 2 tiros pra deixar de ser besta.

23 de mai. de 2011

Joãozinhos

Quando você é criança, você quer uma coisa igual a que o Joãozinho tem. E tem que ser na hora. Tem gente que diz que isso é inveja, ciúme. E você cresce ouvindo que inveja e ciúme são coisas ruins.
Agora você é um adulto e não sente mais ciúme ou inveja. Aprendeu a lidar com esses sentimentos ruins de maneira racional e madura. Você está mais que preparado pra superar a vontade de pegar as coisas do Joãozinho.
Exceto que não está.
As vezes você, adulto e maduro, se pega imaginando loucuras pra tomar ela do Joãozinho. Porque na sua cabeça ela nunca foi do Joãozinho, e aquele invejoso tirou ela de você. Mas aí você descobre que o Joãozinho não roubou ela e na verdade nem existe um Joãozinho. Ela foi embora com as próprias pernas e você sabe porque. Mas pra aliviar a consciência sempre inventamos um Joãozinho imaginário, aquele calhorda que tirou ela de você...

20 de mai. de 2011

Esfriou

Esfriou.
Ele coloca roupas mais pesadas, um sueter, talvez uma calça de moleton.
Droga, tá frio aqui dentro.
Faz um chocolate quente. Coloca um par de meias grossas. Checa se as janelas estão bem fechadas.
Parece que o frio aumentou. Eu tenho certeza que fechei tudo.
Toma um banho quente. Ferve a sopa e toma ainda pelando. Coloca outro casaco.
Brrr. Aqui dentro deve estar tão frio quanto lá fora.
Então tira as roupas quentes e resolve ir lá fora abraçar o frio. Quando chega na porta vê um sol quase brilhando, temperatura amena e agradável.
Então porque eu sinto tanto frio lá dentro?

2 de fev. de 2011

horas de varanda

Eu quero uma varanda. Pode até ser metafórica mas eu quero uma varanda. Um lugar pra passar as horas longe de tudo, não precisa ser longe de todos já que uma varanda com boa companhia é ainda melhor. A melhor coisa do mundo é você passar horas numa varanda. Ah, as horas de varanda.
Meu ideal varandesco é um lugar sereno com som ambiente, seja de pássaros ou de engarrafamento, que não incomode. Que tenha algo pra que você possa repousar mas com algum movimento, uma cadeira de balanço, uma rede, um colo confortável. Tem que ter uma vista, não precisa ser bonita, basta ser interessante(será que ainda estou pensando em varandas?)
Quando era garoto eu não tive uma varanda. Tinha aquele pedaço de cimento entre a casa e o quintal mas que nunca seduziu como uma varanda deve seduzir. Anos depois, nesse apartamento aqui, teve o terraço, que é legal mas ainda, não é a varanda dos meus sonhos. Já tentei fazer de varanda algumas vezes mas ele não colabora, é maçante demais, só tem concreto e cinza em volta, concreto e cinza que eu vejo todos os dias nos últimos 20 anos. Definitivamente não serve.
Eu sinto mesmo falta de uma varanda. Se eu andasse de skate minha varanda seria uma rampa, um lugar pra se encontrar com os brothers, dar vários flips e impressionar as minas. Mas eu não ando de skate. O mais perto que eu tenho de varanda é um bar que a gente vai sempre. Mas aquilo ali não é uma varanda, e se alguém deitar na sua rede ou estragar a vista não há o que se fazer. Dá pra passar algumas horas ali mas sem vista e sem rede.
A praia. A vista é ótima, o mar dá a sensação de movimento, sempre tem vento fresco, dá pra abrir um livro, e durante boa parte do ano há pessoas semi-nuas desfilando. É a varanda perfeita. Mas eu não moro tão perto da praia pra poder fazer de varanda e tampouco tenho a paciência de algumas pessoas que passam mais de 1 hora em transporte público pra ir atrás de suas varandas.
Acho que é isso que todos nós buscamos na vida, nossas varandas. Quando o espaço permite e o dinheiro dá, a primeira coisa que a pessoa faz é uma piscina pra imitar o mar. Porque o mar transforma tudo em varanda. Até nos apartamentos mais luxuosos, as pessoas gostam de fingir que tem varandas, colocam umas cadeiras de praia, umas plantinhas, mas elas sabem, e nós também, que aquilo ali não é uma varanda.
Eu ainda não desisti de encontrar minha varanda, e você?

28 de jan. de 2011

meu herói

Eu lembro da terceira série como se fosse ontem (pode ter sido oitava). Pediram pra fazer uma redação. O tema era uma pessoa que você admirava ou gostava. Por algum motivo eu escrevi sobre o Ayrton Senna. Que conste que foi em 1995 e o Ayrton ainda não era essa modinha que é hoje(o que mostra que eu era uma criança com personalidade). Sim, ele já era muito querido, amado, idolatrado, salve salve, mas ainda era o cara que dirigia muito bem e pegava loiras bonitonas. É um fenômeno muito comum, um tempo depois que a pessoa morre a gente fica com a falsa impressão de que era santo e talentoso, como aconteceu com o Kurt Cobain.
Mas isso não importa, não estamos aqui por causa de nenhum deles. Hoje eu penso que deveria ter escrito sobre o Steven Seagal.
Steven Seagal não pegava loiras bonitonas, ele casava com mulheres inocentes que precisavam ser salvas. Também nunca bateu em mulher, exceto uma vez, mas que depois se revelou ser um homem em trajes femininos. E se alguém matasse elas ele ia atrás pra se vingar. Quer partido melhor que esse?
Não importa quantas vezes matassem o cachorro, queimasse a casa ou destruíssem a moto, ele ia lá de novo e adotava, construía e comprava outros. Nunca desistiu da vida.
Steven Seagal é um cara tão legal que ele não machuca ninguém, usa a força dos oponentes contra eles mesmos com o aikido, exceto quando usa armas de fogo ou espadas ninja.
Outra coisa bacana sobre ele é que ele sempre foi gordo, o que dá esperança pra todo gordinho que sonha um dia em se vingar daqueles que lhe chamaram de peido engarrafado.
Mas o principal é que ao contrário da redação original uma redação sobre o Steven Seagal falaria da vida e dos feitos dele, como ser policial também na vida real. Porque eu até hoje não entendo como aquele garoto de 8 anos sabia tantos(uma redação quase inteira) detalhes sórdidos sobre a morte e a promiscuidade de um piloto.
Por essas e outras que Steven Seagal é meu herói.
Ah, e o Steven também dirige muito bem.

27 de jan. de 2011

o mundo é seu, Tereza

Tereza estava sentada sozinha no bar depois que a amiga arrumou um carinha e deu cano nela.
-Oi!
-Oi...
-Posso sentar aqui?
-Pode, fazer o quê?
-Eu sei que você não me conhece, mas eu te conheço. Sei tudo sobre você, tudo que há pra saber.
-Ih, cara. Dá um tempo que de maluco eu já estou cansada.
-Pelo menos me escuta. Eles me escolheram pra falar pra você.
-Eles quem?
-Eles, os outros, todo mundo, não importa. O que importa é o recado.
-Esse recado tão importante não seria de que você tem que comprar seu remédio? Eu, hein.
-Me escuta.
-...
-Sabe porque você sempre se sentiu deslocada, fora de lugar? Porque é pra ser assim. Você é maior que tudo isso aqui, não dá pra encaixar.
-Tá me chamando de gorda?
-Isso aqui é pra você, sempre foi. A gente tá aqui por você. Eu to aqui por você.
-Olha, se isso foi uma cantada...
-Você é o centro de tudo, as outras pessoas não existem, ou existem só pra você, pra servir ao seu propósito. Você deve estar achando estranho, mas você sempre achou tudo estranho, tudo muito conveniente. É porque desde o início tudo foi pra você, uma conspiração se assim preferir, pra te servir, pra viver com você, tudo, tudo pra você. Pra te fazer rir, chorar, amar, sentir saudade. Porque você é maior que tudo, é a razão de a gente estar aqui.
-Não tem a gente, eu sou eu, você é você.
-Não a gente nós 2, a gente os outros, eu e eles. Estamos aqui por você.
-Cara, eu ainda não bebi o suficiente pra cair nesse seu papinho.
-Olha ao seu redor, sente como tudo isso aqui é seu. Como se fosse um espetáculo onde você é estrela e platéia ao mesmo tempo. Só estamos aqui pra te preparar e ovacionar, mas você é a dona do show e faz o que quiser com ele.
-Por mais que você seja bonito e tenha um papo engraçadinho eu não to afim. Tem outra dona do show logo ali.
-Não existe outra dona do show.
-Aham.
-Na pior das hipóteses eu inventei isso tudo. Mas imagine por um minuto que é verdade, que todos nós te servimos, você é nossa rainha, nossa deusa, nossa musa.
-Tá, e?
-Justamente eu apareci pra te contar. Não mereço nem um beijinho?

E na manhã seguinte...

"Não sei como eu ainda caio no papo desses caras" Tereza pensou baixinho enquanto recolhia as roupas do chão do quarto e depois saiu sem fazer barulho da casa do maluco.

4 de jan. de 2011

rascunho perdido e achado

Achei hoje num caderno velho enquanto anotava macetes para um jogo de videogame :~~

Estava atrasado. De novo. O chefe substituto já havia lhe avisado sobre os horários. Terminou o café em apenas um gole e correu para a porta. "Preciso de um despertador novo" - pensou ele. "Compro ainda hoje mas preciso pegar dinheiro no banco, não tenho nem o da gasolina pra voltar". Entrou no chevette e tentou, em vão, fazer o carro pegar. Ficou ali 10 minutos girando a chave e imaginando a bronca do chefe até ouvir o ronco salvador do motor.

Não tem pé, cabeça, meio nem final. Igual minha vida.