18 de jun. de 2011

Trouxe um cavalo para mim? -Parte Final

Aqui continua a saga de Frank:


Ele só foi acordar no hospital 1 dia depois. Parecia uma múmia da cintura pra baixo e a perna direita estava suspensa no ar, imobilizada por cordas em roldanas. Ficou sabendo pela enfermeira que sofreu uma concussão e tinha quebrado a perna em 3 lugares. Já tinha passado por várias cirurgias, mas ainda faltavam cirurgias menores e era quase certa uma perda de mobildiade parcial da perna. Isso significava que Frank não poderia mais montar. Sua carreira como ídolo de Western estava acabada antes de começar.
Frank recusou a receber visita de qualquer um que fosse do estúdio ou da produção do filme. E assim que recebeu alta, arrumou as coisas e voltou para o Brasil. Estava tomado pela raiva e pela vergonha, não poderia mais fazer cinema depois do que aconteceu. Hârmonica triunfava novamente.
O tempo passou e Francisco desistiu do nome artístico e da carreira de ator. Mas não conseguiu ficar totalmente longe do cinema. Virou projecionista no pequeno cinema da sua cidade. Podia ver filmes a hora que quisesse e pra esse ou aquele filme fazia uma decoração especial com o tema do filme. Já estava conformado, e até feliz com sua nova vida.
Um dia, Francisco estava abrindo as latas com os últimos filmes que o cinema recebeu e se interessou pelo título de um deles: Vingando Franklin Honda. Colocou o filme pra rodar no projetor. Francisco ficou boquiaberto com o que viu.
Na primeira cena dava podia se ver as costas de um cowboy tentando parar sua montaria que corria desembestada. Ouve-se um grito, seguido de um tiro. Então o cowboy cai. A camera foca nele desacordado e sujo de sangue no chão. É Francisco, ou melhor, Frank Fonda. Quando outros 2 cowboys aparecem, Bronson e o ator que fazia o Federal Marshal, o atirador já não está por perto. Bronson jura que vai achá-lo para vingar o irmão.
A tela fica preta e entra VINGANDO FRANKLIN HONDA. Não é possível. Minha vergonha eternizada pra sempre em filme. CHARLES BRONSON como Colton Cameron. Como eles puderam fazer isso? Deve ser uma piada de muito mal gosto. TIMOTHY SILVESTER como Marshall Hering. Francisco ainda não conseguia acreditar naquilo e... Participação Especial: Frank Fonda.
Era a realização do sonho de Francisco. Apareceu num filme mesmo sem querer. Já não importava tanto sua lesão, estava feliz. Aquele canto inquietante em sua alma estava finalmente sossegado. E ainda aproveitou pra surrupiar os posters do filme de lembrança.

16 de jun. de 2011

Trouxe um cavalo pra mim?

Era a estréia do cinema na cidadezinha e o pai queria que Francisco conhecesse aquilo que ele não teve oportunidade de conhecer quando criança. Iam passar Era Uma Vez No Oeste, um faroeste que tinha acacado de estrear nos cinemas americanos.
Depois do filme, Francisco saiu montando uma vassoura e anunciando que seu nome agora seria Frank e que era um cowboy fora da lei. A brincadeira durou um bom tempo, mas logo Frank mudou. Foi o computador HAL de 2001: Uma Odisséia no Espaço, quando andava pra cima e pra baixo com uma máquina de escrever quebrada amarrada no pescoço e só se comunicava através de bips. Depois de HAL, virou o Dr. Zaius de Planeta dos Macacos, que colou em si uma pelagem rosa e amarela raspada dos ursinhos da irmã menor. Foi bem nessa época que uma prima de Francisco o acusou de levar pulgas pra casa pra ficar catando do cabelo e comendo.
Francisco adorava tudo sobre cinema, lia revistas, não desgrudava do rádio quando entrevistavam algum ator e não pensou 2 vezes quando teve a oportunidade. Aprendera inglês de tanto ver filmes, tinha algum dinheiro guardado, a família o apoiava. E saiu da cidadezinha aos 16 anos com destino a Hollywood.
Com seus dotes pra fazer fantasias, Francisco logo arrumou um emprego de auxiliar de cenário e maquiagem em pequeno estúdio. Mas o que ele buscava era a frente das câmeras. E ia fazer o que fosse preciso pra impressionar alguém.
Francisco ficou amigo de um motorista de outro estúdio, que parecia saber todas as fofocas de todos os artistas. Esse motorista, Conner, lhe contou que outro dia mesmo durante as filmagens de um bang bang, o contra-regra responsável pelos tiros da cena impressionou um figurão rodando as pistolas e colocando no bolso. Agora esse contra-regra ia ser o ajudante do Sheriff que roda a pistola e fala uma frase de efeito quando avisam que os bandidos estão chegando.
-É isso, pensou ele, vou fazer alguma coisa chamativa e conquistar meu lugar no filme.
Aí que soube que Charles Bronson viria visitar o estúdio pra falar sobre um projeto. Aquele mesmo Harmônica, seu inimigo de infância desde o momento em que matou Frank no cinema. Francisco, agora Frank Fonda em homenagem a seu maior herói, sabia o que tinha que fazer, e passou as semanas seguintes obcecado por um plano de vingar a morte de Henry Fonda no filme.
Tudo acertado entre o estúdio e o ator, Harmônica viria filmar. Era a oportunidade perfeita pra colocar em prática seu plano de vingar o Frank original e chamar atenção do diretor.
Na primeira semana de filmagens, estavam fazendo apenas as cenas externas. Nessa cena Harmônica (Sheriff Colton Cameron nesse filme) e o Federal Marshal voltavam do deserto e deixavam os cavalos no estábulo enquanto eram seguidos por uma dúzia de cameras posicionadas em diversos angulos. Frank também estaria posicionado. Quando chegou a hora de filmar, Frank se ofereceu pra ir buscar o cavalo de Harmônica. Frank sabia o que fazer. Fingiria que o cavalo disparou pra cima de Harmônica, quando estivesse já em cima de Bronson, Frank ia domar o cavalo e mostrar pro diretor que aquele atorzinho se assustava com qualquer coisa, e ele, além de ter nervos de aço, era um excelente cowboy.
As câmeras estavam ligadas para um teste de video quando Frank voltou dos estábulos montado no cavalo. O dublê, que ia cavalgar no lugar do foragido, resolveu tirar uma com a cara de Frank quando o viu. Esperou ele passar, gritou seu nome e deu um tiro de festim em sua direção. O estampido assustou o cavalo, que empinou e arremessou Frank longe.
(continua em um de nossos próximos capítulos)

8 de jun. de 2011

Oinc!

Se esbarraram pela faculdade. Ele, Léo, vindo da aula de Antropologia e Etnografia - Cara, que aula do cacete - devaneava ele. Ela, Ana, indo pra Cena e Dramaturgia II - Além de não terminar a maquete pra hoje estou super atrasada - resmungava ela.
BLAM!
A maquete que ainda tinha salvação agora era só destroços. Os óculos dele foram parar longe.
-Você está bem? Eu tava vindo da aula meio sem atenção. Me desculpa, por favor.
-Não liga, gato. Fui eu que tava distraída dando um jeito nessa maque... Ah, não. A minha maquete!
E ficaram ali uns bons minutos discutindo coisas triviais de faculdade e se apaixonando. Só ele, porque ela não era dessas que acredita em amor.
Aí, ele aproveitou que o papo tava bom, reuniu toda a coragem do mundo e falou.
-Já que aparentemente seu projeto babou, você quer ir ali comer alguma coisa? Eu pago.
E foram. Primeiro pra lanchonete, depois pra casa dela. Ela quem deu a idéia de irem. Apesar de quase não acreditar em coisas do coração.
Tinham acabado de se conhecer no sentido bíblico quando ela notou. Uma cicatriz vertical e enorme no peito dele. Olhou a cicatriz com um misto de carinho e dó. Ana agora tinha uma ligeira certeza de que coisas do coração não existem. Ficou sem jeito de perguntar. Mas ele notou.
-É a cicatriz, né? Não tem problema, eu já estou me acostumando com ela. Já tem um tempinho.
-Foi acidente?
-Não, eu sempre tive um coração fraco. O médico disse que era genético. Aí eles me deram um coração novo.
-Deve ser estranho ter o coração de outra pessoa.
-Não é de outra pessoa. Eles implementaram uma técnica experimental, me deram um coração de porco. Dos 12 pacientes, eu sou o único que passou de 1 ano.
-...
-Eu sei que não deve ser fácil de processar, mas esse coração me deu uma vida nova. E a incerteza desse coração me faz viver com mais vontade. Por isso que eu não me arrependo de dizer isso. Eu te amo! Não me preocupa se você não me amar de volta. Porque eu te amo e isso basta. Um amor de horas não vale menos que nenhum outro amor.
Se beijaram. E Ana aceitou de vez que coisas do coração existem e valem a pena. Mesmo vindas de um coração de porco.

4 de jun. de 2011

Agitadíssimo

-Alô. Ah, marcar as aulas da auto-escola? Claro. Eu só não queria ter que fazer no domingo, domingo é pra descansar. Peraí. Sábado também não, sempre pinta alguma coisa pra fazer no sábado, né? Então, qualquer dia útil eu posso. Menos sexta, sexta é pra ficar em casa de "bob" esperando o fim de semana. Você sabe como é... Ah, e segunda não, eu não gosto de fazer nada na segunda porque o dia inteiro fica com aquele clima de segunda feira. Deve ser por isso que chamam de segunda. Então, ainda tem dia pra caramba, ó. Terça, quarta, quinta. Apesar de que eu me canso com facilidade e preciso fazer um descanso no meio da semana. A quarta é ótima pra esse descanso. Terça ou Quinta. Apesar de que eu não faço nada na quarta e nem na sexta então eu gosto de enforcar a quinta. Se eu não enforco a quinta passo o dia pensando que deveria ter ficado em casa. Ok, então fica combinado, às terças. Mas só posso terça à tarde. Porque terça de manhã eu ainda to cansado do fim de semana prolongado que eu faço. Tá pensando que é fácil manter essa vida agitada que eu levo? Então terça à tarde. Até logo.

2 de jun. de 2011

A quentinha.

Ela era morna. Morna como o sol de uma manhã de primavera entrando pela janela. Morna como um gole de chá. Morna como... bom, era bem morna. Mas ela não era feliz sendo morna.
Então ela conheceu nosso frio herói, o sujeito que não parava de tremer há poucos posts atrás. Além de achar ele um pão, ela pensou que ele era peculiar. Que a massa de ar frio que ele gerava era tudo que ela procurava pra se refrescar. E que era possível derreter algumas camadas daquele gelo.
Por um bom tempo houve uma troca bacana de temperaturas. Sempre frio ou quente, era quase impossível que ambos ficassem plenamente satisfeitos ao mesmo tempo. Culpa das nuvens carregadas formadas pelo atrito entre o quente e o frio. Muita neblina, ninguém conseguia enxergar o que tinha do outro lado do nevoeiro e ficavam reféns de boletins meteorológicos e de palpite dos vizinhos. E os vizinhos sempre achavam que vinha chuva.
Esse chove e não molha durou mais tempo que devia, até que a mocinha decidiu que seu fogo ainda era jovem demais pra desperdiçar com o gélido rapaz. E foi embora determinada a encontrar um coração apto a ser propriamente aquecido.
O último boletim do tempo nos traz informações de que a mocinha reclama frequentemente de calor e pede a deus por um vento fresco. O rapaz ainda não saiu de sua era glacial particular mas jura de pés juntos que está bem assim. Se estão mesmo felizes ninguém sabe.