28 de jan. de 2011

meu herói

Eu lembro da terceira série como se fosse ontem (pode ter sido oitava). Pediram pra fazer uma redação. O tema era uma pessoa que você admirava ou gostava. Por algum motivo eu escrevi sobre o Ayrton Senna. Que conste que foi em 1995 e o Ayrton ainda não era essa modinha que é hoje(o que mostra que eu era uma criança com personalidade). Sim, ele já era muito querido, amado, idolatrado, salve salve, mas ainda era o cara que dirigia muito bem e pegava loiras bonitonas. É um fenômeno muito comum, um tempo depois que a pessoa morre a gente fica com a falsa impressão de que era santo e talentoso, como aconteceu com o Kurt Cobain.
Mas isso não importa, não estamos aqui por causa de nenhum deles. Hoje eu penso que deveria ter escrito sobre o Steven Seagal.
Steven Seagal não pegava loiras bonitonas, ele casava com mulheres inocentes que precisavam ser salvas. Também nunca bateu em mulher, exceto uma vez, mas que depois se revelou ser um homem em trajes femininos. E se alguém matasse elas ele ia atrás pra se vingar. Quer partido melhor que esse?
Não importa quantas vezes matassem o cachorro, queimasse a casa ou destruíssem a moto, ele ia lá de novo e adotava, construía e comprava outros. Nunca desistiu da vida.
Steven Seagal é um cara tão legal que ele não machuca ninguém, usa a força dos oponentes contra eles mesmos com o aikido, exceto quando usa armas de fogo ou espadas ninja.
Outra coisa bacana sobre ele é que ele sempre foi gordo, o que dá esperança pra todo gordinho que sonha um dia em se vingar daqueles que lhe chamaram de peido engarrafado.
Mas o principal é que ao contrário da redação original uma redação sobre o Steven Seagal falaria da vida e dos feitos dele, como ser policial também na vida real. Porque eu até hoje não entendo como aquele garoto de 8 anos sabia tantos(uma redação quase inteira) detalhes sórdidos sobre a morte e a promiscuidade de um piloto.
Por essas e outras que Steven Seagal é meu herói.
Ah, e o Steven também dirige muito bem.

27 de jan. de 2011

o mundo é seu, Tereza

Tereza estava sentada sozinha no bar depois que a amiga arrumou um carinha e deu cano nela.
-Oi!
-Oi...
-Posso sentar aqui?
-Pode, fazer o quê?
-Eu sei que você não me conhece, mas eu te conheço. Sei tudo sobre você, tudo que há pra saber.
-Ih, cara. Dá um tempo que de maluco eu já estou cansada.
-Pelo menos me escuta. Eles me escolheram pra falar pra você.
-Eles quem?
-Eles, os outros, todo mundo, não importa. O que importa é o recado.
-Esse recado tão importante não seria de que você tem que comprar seu remédio? Eu, hein.
-Me escuta.
-...
-Sabe porque você sempre se sentiu deslocada, fora de lugar? Porque é pra ser assim. Você é maior que tudo isso aqui, não dá pra encaixar.
-Tá me chamando de gorda?
-Isso aqui é pra você, sempre foi. A gente tá aqui por você. Eu to aqui por você.
-Olha, se isso foi uma cantada...
-Você é o centro de tudo, as outras pessoas não existem, ou existem só pra você, pra servir ao seu propósito. Você deve estar achando estranho, mas você sempre achou tudo estranho, tudo muito conveniente. É porque desde o início tudo foi pra você, uma conspiração se assim preferir, pra te servir, pra viver com você, tudo, tudo pra você. Pra te fazer rir, chorar, amar, sentir saudade. Porque você é maior que tudo, é a razão de a gente estar aqui.
-Não tem a gente, eu sou eu, você é você.
-Não a gente nós 2, a gente os outros, eu e eles. Estamos aqui por você.
-Cara, eu ainda não bebi o suficiente pra cair nesse seu papinho.
-Olha ao seu redor, sente como tudo isso aqui é seu. Como se fosse um espetáculo onde você é estrela e platéia ao mesmo tempo. Só estamos aqui pra te preparar e ovacionar, mas você é a dona do show e faz o que quiser com ele.
-Por mais que você seja bonito e tenha um papo engraçadinho eu não to afim. Tem outra dona do show logo ali.
-Não existe outra dona do show.
-Aham.
-Na pior das hipóteses eu inventei isso tudo. Mas imagine por um minuto que é verdade, que todos nós te servimos, você é nossa rainha, nossa deusa, nossa musa.
-Tá, e?
-Justamente eu apareci pra te contar. Não mereço nem um beijinho?

E na manhã seguinte...

"Não sei como eu ainda caio no papo desses caras" Tereza pensou baixinho enquanto recolhia as roupas do chão do quarto e depois saiu sem fazer barulho da casa do maluco.

4 de jan. de 2011

rascunho perdido e achado

Achei hoje num caderno velho enquanto anotava macetes para um jogo de videogame :~~

Estava atrasado. De novo. O chefe substituto já havia lhe avisado sobre os horários. Terminou o café em apenas um gole e correu para a porta. "Preciso de um despertador novo" - pensou ele. "Compro ainda hoje mas preciso pegar dinheiro no banco, não tenho nem o da gasolina pra voltar". Entrou no chevette e tentou, em vão, fazer o carro pegar. Ficou ali 10 minutos girando a chave e imaginando a bronca do chefe até ouvir o ronco salvador do motor.

Não tem pé, cabeça, meio nem final. Igual minha vida.