27 de nov. de 2011

Portas

Amadeu se sentiu perdido. Todas as casas da rua eram parecidas, tinham sido construídas da mesma maneira há muito tempo. Em algumas se notavam reformas, a pintira fora retocada em outras, mas basicamente eram iguais. E Amadeu não fazia idéia de qual casa procurava.
Amadeu não lembrava em qual casa tinha entrado ontem. Tinha bebido. Ou tinha sonhado, também pode ter sido isso. Mas era uma daquelas casas, ele sentia isso. Sabia que ali atrás de alguma daquelas portas estava a mulher que tinha conhecido ontem, ou sonhado, que seja. Era a mulher de sua vida e isso que era importante. A casa era só um detalhe e achar ela seria questão de tempo. Era ali. Amadeu não conseguia lembrar também como ela era, mas saberia quando a visse.
Amadeu entrou numa porta ao acaso, a sorte o levaria até sua amada. A sala era familiar, a mulher sentada ao sofá também. Mas seria ela? Amadeu sentiu alguma. Podia ser o destino mandando ele ir em frente ou a consciência falando pra ele correr pra porta. Correu pra porta. Não era ali que deveria ficar. O episódio se repetiu em várias casas. A sensação estranha e depois a certeza de que não era lá.
Na varanda de algumas casas Amadeu sentiu a certeza de que era naquela, mas depois se deparava com uma casa vazia. Mais estranho era olhar pela janela em certas casas e ver homens aonde ele deveria estar. Amadeu ficava chateado em toda casa em que a mulher não parecia notar que o homem que ali estava não era ele. Determinadas casas tinham até mulheres em seu lugar.
A rua agora parecia interminável com suas 2 fileiras de casas idênticas até o horizonte. Milhares de janelas mostrando pessoas felizes como quadros, e Amadeu ali sem encontrar o seu cantinho. Até que uma porta se abriu.
"Amadeu?" - perguntou a mulher à porta.
"Sim"
"Você veio me ver? - perguntou a moça enquanto abria um sorriso.
Foi então que Amadeu se lembrou de tudo. Já estivera ali mesmo, mas não na noite passada, estivera ali várias vezes com aquela mulher. Passou anos com ela. Outra vez passou meses. Uma vez entrou num dia e saiu no outro. Sempre ia e voltava. E sempre lhe parecia uma boa idéia ficar naquela casa com a mulher. Mas depois saía enxotado ou enfurecido da casa. Nunca dava certo. E depois de um tempo tudo aquilo lhe parecia como um sonho estranho pro qual ele achava que queria voltar.
"Você vai entrar?" - a mulher agora exibia uma cara de confusa.
Amadeu não pensou 2 vezes. Desceu a rua correndo e começou a abrir outras portas. Entrou na primeira casa vazia que achou. E ficou ali feliz da vida, pensando em como aquela casa era tudo o que ele precisava.