Tereza estava sentada sozinha no bar depois que a amiga arrumou um carinha e deu cano nela.
-Oi!
-Oi...
-Posso sentar aqui?
-Pode, fazer o quê?
-Eu sei que você não me conhece, mas eu te conheço. Sei tudo sobre você, tudo que há pra saber.
-Ih, cara. Dá um tempo que de maluco eu já estou cansada.
-Pelo menos me escuta. Eles me escolheram pra falar pra você.
-Eles quem?
-Eles, os outros, todo mundo, não importa. O que importa é o recado.
-Esse recado tão importante não seria de que você tem que comprar seu remédio? Eu, hein.
-Me escuta.
-...
-Sabe porque você sempre se sentiu deslocada, fora de lugar? Porque é pra ser assim. Você é maior que tudo isso aqui, não dá pra encaixar.
-Tá me chamando de gorda?
-Isso aqui é pra você, sempre foi. A gente tá aqui por você. Eu to aqui por você.
-Olha, se isso foi uma cantada...
-Você é o centro de tudo, as outras pessoas não existem, ou existem só pra você, pra servir ao seu propósito. Você deve estar achando estranho, mas você sempre achou tudo estranho, tudo muito conveniente. É porque desde o início tudo foi pra você, uma conspiração se assim preferir, pra te servir, pra viver com você, tudo, tudo pra você. Pra te fazer rir, chorar, amar, sentir saudade. Porque você é maior que tudo, é a razão de a gente estar aqui.
-Não tem a gente, eu sou eu, você é você.
-Não a gente nós 2, a gente os outros, eu e eles. Estamos aqui por você.
-Cara, eu ainda não bebi o suficiente pra cair nesse seu papinho.
-Olha ao seu redor, sente como tudo isso aqui é seu. Como se fosse um espetáculo onde você é estrela e platéia ao mesmo tempo. Só estamos aqui pra te preparar e ovacionar, mas você é a dona do show e faz o que quiser com ele.
-Por mais que você seja bonito e tenha um papo engraçadinho eu não to afim. Tem outra dona do show logo ali.
-Não existe outra dona do show.
-Aham.
-Na pior das hipóteses eu inventei isso tudo. Mas imagine por um minuto que é verdade, que todos nós te servimos, você é nossa rainha, nossa deusa, nossa musa.
-Tá, e?
-Justamente eu apareci pra te contar. Não mereço nem um beijinho?
E na manhã seguinte...
"Não sei como eu ainda caio no papo desses caras" Tereza pensou baixinho enquanto recolhia as roupas do chão do quarto e depois saiu sem fazer barulho da casa do maluco.
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